terça-feira, 18 de agosto de 2020

Quando a tristeza faz a arte: 15 discos melancólicos

 



Que a depressão e a tristeza profunda são capazes de criar as melhores e mais significativas canções, isso é fato. Mas já pensou em compilar grandes obras nas quais a melancolia teve papel fundamental? E não julgo aqui sucesso ou fracasso de vendas, mas toda a obra em si. Divirta-se!


Big Star - Third (1978)

Alex Chilton e Jody Stephens, os únicos membros do Big Star naquele momento conturbado, entraram em estúdio para gravarem o que seria o terceiro registro da banda: Third. O baixista Andy Hummel deixou a banda pouco antes. Apesar de tudo, a melancolia já estava presente em Radio City, o álbum anterior, de 1974. Em Third, a voz de Chilton parece que irá despedaçar a qualquer momento.

The Cure - Pornography (1982)

"Não importa se todos nós morreremos!", é assim que começa o quarto disco do The Cure, com uma densidade que deixou o status de Pornography como um dos melhores álbuns da banda. Durante as gravações, o grupo abusou de álcool e drogas e viu o seu vocalista, Robert Smith, entrar em uma depressão profunda, influenciando a totalidade soturna do trabalho.

Adele - 21 (2011)

O segundo disco da cantora Adele foi planejado para sair mais alegre e pra cima que seu antecessor. Porém, quando a relação entre ela e o namorado chegou ao fim, as coisas não saíram conforme o que estava no papel e toda a dor e desilusão de Adele foram canalizadas em 21. Basta ouvir canções como Rolling in the Deep e Don't You Remember para sentir a triste atmosfera. Mesmo assim, Turning Tables e Someone Like You ainda expressam maturidade em meio à toda dor.

 Arnaldo Baptista - Lóki? (1974)

A estreia solo de Arnaldo Baptista, após romper com os Mutantes, é uma das belezas mais bonitas registradas na história da música brasileira. O que se ouve em Lóki? é um artista se expressando através de toda dor pelo término do romance com Rita Lee e sua própria banda. Gravado em poucos takes, é possível notar erros e um Arnaldo cantando de forma bastante abatida e desesperada. Nunca na música brasileira o desalento falou tão alto.


David Bowie - Blackstar (2016)

A despedida de David Bowie em carreira e em vida não fez apenas um trabalho triste, mas um mundo para baixo. Dois dias após o lançamento de Blackstar, no dia de seu aniversário de 69 anos, Bowie deixou o mundo vítima de um câncer de fígado. A doença não havia sido revelada por ele até então, mas o último canto do camaleão é um encontro com a obscuridade.

Leonard Cohen - Songs of Love and Hate (1971)

O terceiro trabalho de Leonard Cohen, lançado pela Columbia, traz as poesias cinzentas e os dedilhados pesados do artista em meio à sua voz densa e grave, que dão ainda mais sentimento às canções. Escute Love Calls You By Your Name com atenção e irá se sentir em um funeral.

Lou Reed - Berlin (1973)

Um álbum conceitual sobre um casal que lida contra o vício em drogas e abusos, ao mesmo tempo em que Jim e Caroline, as personagens, vivem dentro de uma realidade difícil entre prostituição, depressão e suicídio. Para entender Berlin, talvez seja necessário ouvi-lo várias vezes. Um clássico!

Nick Drake - Pink Moon (1972)

Absolutamente relaxante e de audição cuidadosa, nem sempre Pink Moon pode soar exatamente bonito quando se tem ciência por trás da tristeza que envolveu a grvação do terceiro e último álbum de um depressivo Drake. O fato das vendas terem sido um fiasco não ajudou em nada e Nick Drake resolveu sair de cena. Dois anos depois, morreu de overdose por uso de antidepressivos em sua casa.

Nico - Desertshore (1970)

O terceiro disco da cantora alemã Nico precedeu The End..., o disco seguinte, lançado em 1974, mas ainda não era propriamete dito o fim. O clima soturno do disco ganha proporções maiores devido à voz grave e quase falada da cantora, em contraponto com instrumentais fúnebres que fizeram de Desertshore uma linda obra que nem sempre recebe a atenção que merece.

The Beach Boys - Pet Sounds (1966)

A obra que inspirou Paul McCartney e os Beatles a criarem Sgt. Peppers no ano seguinte é um conjunto de canções escritas e trabalhadas pelo cabeça da banda: Brian Wilson. Ele decidiu deixar as turnês de lado e se concentrou em um audacioso projeto que dividiria a história da música pop em dois. God Only Knows e You Still Believe In Me são perguntas frequentes do "e se?". Quando Sgt. Peppers saiu, Brian deitou na cama e não levantou mais.

Bob Dylan - Blood on the Tracks (1974)

Há dez anos do lançamento de Blood on the Tracks, Dylan questionava a política e se posicionava em temas que consagraram os primeiros anos da carreira. Agora, o mesmo Dylan questionava o amor e citava o tema com desilusão na maior parte das faixas. Blood on the Tracks trouxe um Bob Dylan reflexivo e introspectivo. O disco alcançou a posição de número 1 no Pop Albums.

Stevie Wonder - Talking Book (1972)

Talking Book é uma beleza ardente suprema do seu "período clássico". Talvez seja o melhor disco de um artista rompendo com a Soul Music e agrupando-a à outros terrenos. You Are The Sunshine Of My Life lhe deu o primeiro Grammy Award de Melhor Performance Pop Vocal Masculina. Um disco que desafia os nossos sentimentos mais agudos.

Neil Young - Tonight's the Night (1975)

O disco da fase "Doom Trilogy" de Neil Young foi gravado em 1973, mas a gravadora o achou muito denso para lançamento e o projeto ficou arquivado por dois anos até encontrar a luz do dia(ou pelo menos tentar). A capa por si só é melancólica, e as faixas Tired Eyes e Mellow My Mind quase que fazem as caixas de som chorarem. Um Neil Young desafinado e sem direção em um dos seus melhores discos da carreira.

Cartola - Cartola (1976)

O Mundo é um Moinho e As Rosas Não Falam são clássicos da música brasileira, e todo o contexto pessimista e de melancolia do segundo álbum de Cartola marcou a nossa música. Ainda que em Não Posso Viver Sem Ela e Ensaboa nós observamos uma tentativa de manter o astral e o bom-humor, a profundidade das canções deixam a obra um tanto quanto ausente de alegria.

Fleetwood Mac - Rumours (1977)

A tensão gerada no estúdio com os términos dos relacionamento de Christine e John McVie e Lindsay Buckingham com Stevie Nicks fez-se criar um dos mais belos discos da história e um dos mais vendidos da década de 70. Sem Dreams, Go Your Own Way, Songbird e The Chain, essa última hino à infidelidade, certamente o álbum não possuiria o brilho que tem. As gravações ocorreram com os membros trabalhando em horários diferentes para não se encontrarem. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Pete Way e os 20 minutos decisivos da carreira



Quando Bernie Marsden esqueceu a passagem de avião em casa para um show com o UFO na Alemanha, os ingleses nem imaginavam que aquele seria o começo de uma nova era, e Pete Way foi o responsável por passar todo o set list da noite em 20 minutos para Michael Schenker, que naquela altura era guitarrista do Scorpions e sentiu graça ao ser convidado para ajudar a tirar um bando de desconhecidos do buraco. 

Foi assim que a história de sucesso do UFO começou a ser escrita no começo da década de 70. Pete Way se tornou um baixista icônico com performances avassaladoras e enérgicas, inspirando até mesmo Steve Harris. A verdade é que Pete Way foi mais que o baixista do UFO, Way foi um membro-chave em qualquer banda. 

Quando de sua saída do UFO em 1982, formou o Fastway junto com "Fast" Eddie Clarke e logo depois disso saiu em certo momento em turnê com Ozzy Osbourne para divulgar o segundo álbum solo do vocalista, Diary of a Madman, e ainda achou tempo para criar o Waysted. Em 1988 e 1989, voltou para o UFO e abandonou o barco em seguida, voltando em 1991 para permanecer até 2008. Além disso, também gravou discos com Phil Mogg para o projeto Mogg/Way no final da década de 90 e participou de discos de Michael Schenker na primeira década do novo milênio.

Pete Way sofreu um grave acidente há dois meses e desde então lutou diariamente contra as lesões que, infelizmente, venceram a batalha. Ele deixou a esposa Jenny e as filhas Zowie e Charlotte.
Ozzy Osbourne certa vez disse: "As pessoas costumam me chamar de Madman, mas elas não tiveram oportunidade de conhecer Pete Way. Comparado a ele, eu sou um santo".

Descanse em paz.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Martin Birch: Competência tem nome

 



O homem dos mil dedos. Ou melhor, o homem dos mil botões. Não importa! Martin Birch sempre foi membro de bandas com quem trabalhou. A produção é a função mais importante para qualquer banda que queira uma identidade forte e uma luz para composições ainda em carne e ossos, e isso Birch conduziu em sua vida com maestria.

Dentre as bandas com quem trabalhou, estão: Deep Purple, Fleetwood Mac, Rainbow, Whitesnake, Wishbone Ash, Jon Lord, Bernie Marsden, Black Sabbath, Blue Öyster Cult, Jeff Beck, Michael Schenker Group e tantos outros. Martin, muitas vezes, assumiu o posto de engenheiro de som e produtor em um mesmo disco. O incansável homem tinha um talento nato para o trabalho. 

Para os amantes brasileiros do Iron Maiden, Martin Birch produziu todos os discos da trupe de Steve Harris a partir de Killers até Fear of the Dark. Conseguiu sacar como a coisa evoluiu nas mãos do britânico? Com isso, é plenamente satisfatório dizer que o produtor teve papel fundamental no desenvolvimento do heavy metal na década de 70 trabalhando com o Rainbow de Ritchie Blackmore até pular para o barco de Toni Iommi em Heaven & Hell, em 1980.

Descanse em paz, Martin. Obrigado por tanto. Competência tem nome!